Desde pequena fantasiava tudo o que lia nos livros. Assídua
frequentadora de bibliotecas, pegava algumas almofadas que havia no sofá
e deitava-se no chão. A bibliotecária se encantava com a doçura e
simplicidade da pequena. Ela não se importava com a aparência, se fazia
sol ou chuva, ou como os outros a viam. Depois de engolir centenas de
letras, chegava a hora de ir para casa. Todos os dias, o mesmo horário.
Exatamente 18:00pm. “BIIIIIII”. Seu pai
chegava para lhe apanhar, e lá ia a menina. Com a cabeça encostada no
banco da frente e olhando janela afora, formulava cenas do último livro
que havia lido. Quando chegava a casa, acompanhava a televisão. Seu pai
vivia numa situação precária, raramente um vintém na carteira tinha.
Dizia que leitura não era importante, coisas mais importantes devia ser
feito. Ela aguardava ansiosamente pelo outro dia, quando retornaria
novamente ao seu aconchego junto de seus melhores amigos. Porém, a
monstruosa adolescência chegou, não mais criança, deveria se portar como
mocinha, pernas cruzadas, bons modos e boas notas na escola. Crescer?
Mas como se a jovem ainda se via pequena, se via preza naquele mundo.
Ela sentia-se deslocada perto dos colegas. Enquanto os mesmos
conversavam sobre sair festar, beber e fazer maluquices no meio da rua,
ela só queria estar em qualquer biblioteca devorando livros. Mas erros
foram cometidos. Deixou os livros. Ao invés de imaginar o sapo se transformando num príncipe, beijou o príncipe que virou o sapo.
Assim toda a ingenuidade havia ido embora. O que lhe era encantamento,
hoje se transformou em aborrecimento e tristeza. Ela podia ter
continuado fantasiadora, leitora e criadora. Mas o tempo não deixou. Ela
não se permitiu. Tristemente repete todas as noites. “Depois de tudo o que vivi e vi - minha escola da vida foram meus livros, ao invés de pessoas.”
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